terça-feira, 18 de junho de 2013

Sequência Didática do conto “Pausa”, de Moacyr Scliar

Sequência Didática do conto “Pausa”, de Moacyr Scliar
Professora: Regiane Astolfi
Atividade realizada para o curso de Melhor Gestão - Melhor Ensino da Diretoria de Ensino de Catanduva.
 
  • Público-alvo: 8º e 9° anos de Ensino Fundamental.

Apresentação da situação (antes da leitura) checagem de hipótese.

            O professor menciona aos alunos que trabalhará um conto, cujo título é “Pausa”, instigando-os a levantarem hipóteses acerca do significado da palavra.

            Serão feitas perguntas como:

            - O que é um conto para vocês?

            - Como vocês definem o significado da palavra “pausa”?

            - Em sua opinião, sobre qual “pausa” se trata o texto?

            Cada aluno livremente fará sua colocação, promovendo assim, uma ativação do conhecimento de mundo que cada um traz consigo.

O professor fará a leitura do texto.

PAUSA


        Às sete horas o despertador tocou. Samuel saltou da cama, correu para o banheiro. Fez a barba e lavou-se. Vestiu-se rapidamente e sem ruído. Estava na cozinha, preparando sanduíches, quando a mulher apareceu, bocejando:
      —Vais sair de novo, Samuel?
             Fez que sim com a cabeça. Embora jovem, tinha a fronte calva; mas as sobrancelhas eram espessas, a barba, embora recém-feita, deixava ainda no rosto uma sombra azulada. O conjunto era uma máscara escura.
            —Todos os domingos tu sais cedo – observou a mulher com azedume na voz.
            —Temos muito trabalho no escritório – disse o marido, secamente.
      Ela olhou os sanduíches:
            —Por que não vens almoçar?
            —Já te disse: muito trabalho. Não há tempo. Levo um lanche.
A mulher coçava a axila esquerda. Antes que voltasse a carga, Samuel pegou o chapéu:
            —Volto de noite.
           As ruas ainda estavam úmidas de cerração. Samuel tirou o carro da garagem. Guiava vagarosamente, ao longo do cais, olhando os guindastes, as barcaças atracadas.
           Estacionou o carro numa travessa quieta. Com o pacote de sanduíches debaixo do braço, caminhou apressadamente duas quadras. Deteve-se ao chegar a um hotel pequeno e sujo. Olhou para os lados e entrou furtivamente. Bateu com as chaves do carro no balcão, acordando um homenzinho que dormia sentado numa poltrona rasgada. Era o gerente. Esfregando os olhos, pôs-se de pé:
            —Ah! Seu Isidoro! Chegou mais cedo hoje. Friozinho bom este, não é? A gente...
            —Estou com pressa, seu Raul – atalhou Samuel.
            — Está bem, não vou atrapalhar. O de sempre - Estendeu a chave.
      Samuel subiu quatro lanços de uma escada vacilante. Ao chegar ao último andar, duas mulheres gordas, de chambre floreado, olharam-no com curiosidade:
            —Aqui, meu bem! – uma gritou, e riu: um cacarejo curto.
Ofegante, Samuel entrou no quarto e fechou a porta a chave. Era um aposento pequeno: uma cama de casal, um guarda-roupa de pinho: a um canto, uma bacia cheia d’água, sobre um tripé. Samuel correu as cortinas esfarrapadas, tirou do bolso um despertador de viagem, deu corda e colocou-o na mesinha de cabeceira.
Puxou a colcha e examinou os lençóis com o cenho franzido; com um suspiro, tirou o casaco e os sapatos, afrouxou a gravata. Sentado na cama, comeu vorazmente quatro sanduíches. Limpou os dedos no papel de embrulho, deitou-se fechou os olhos.
Dormir.
Em pouco, dormia. Lá embaixo, a cidade começava a move-se: os automóveis buzinando, os jornaleiros gritando, os sons longínquos.
Um raio de sol filtrou-se pela cortina, estampou um círculo luminoso no chão carcomido. 
Samuel dormia; sonhava. Nu, corria por uma planície imensa, perseguido por um índio montado o cavalo. No quarto abafado ressoava o galope. No planalto da testa, nas colinas do ventre, no vale entre as pernas, corriam. Samuel mexia-se e resmungava. Às duas e meia da tarde sentiu uma dor lancinante nas costas. Sentou-se na cama, os olhos esbugalhados: o índio acabava de trespassá-lo com a lança. Esvaindo-se em sangue, molhando de suor, Samuel tombou lentamente; ouviu o apito soturno de um vapor. Depois, silêncio.Às sete horas o despertador tocou. Samuel saltou da cama, correu para a bacia, levou-se. Vestiu-se rapidamente e saiu.
Sentado numa poltrona, o gerente lia uma revista.
            — Já vai, seu Isidoro?
            —Já – disse Samuel, entregando a chave. Pagou, conferiu o troco em silêncio.
            —Até domingo que vem seu Isidoro – disse o gerente.
            —Não sei se virei – respondeu Samuel, olhando pela porta; a noite caia.
            —O senhor diz isto, mas volta sempre – observou o homem, rindo.
Samuel saiu.
Ao longo dos cais, guiava lentamente. Parou um instante, ficou olhando os guindastes recortados contra o céu avermelhado. Depois, seguiu. Para casa. 

Habilidade de leitura (durante a leitura)

            Nos momentos em que julgar necessário, o professor fará pausas na leitura do conto a fim de que os alunos façam inferências de significado vocabular e de seqüência textual.

            Assim que os alunos fizerem suas antecipações de sentido, o professor pedirá a eles que busquem pistas textuais (frases, vocábulos, estruturas linguísticas) que comprovem sua linha de raciocínio.

            Nessa fase, serão feitas perguntas como:

            - Para onde será que Samuel irá?

            - A expressão “de novo” sugere o quê a respeito das ações de Samuel?

            - Qual seria o significado da expressão “máscara escura” usada pelo narrador dentro do contexto em questão?

            - Quanto à descrição do lugar presente no conto, onde você imagina que a história se passa?

            - Combinava com Samuel, executivo de escritório, freqüentar um “hotel pequeno e sujo”? Por quê?

            - Por que Samuel troca de nome assim que chega ao hotel?

            - Samuel frequentava o local pela primeira vez ou há mais tempo?

            - A permanência de Samuel no hotel, para você, durou aproximadamente quanto tempo?

            - Afinal, qual era o verdadeiro sentido da “pausa” para Samuel? 

O professor poderá utilizar um recurso visual coma seguinte pergunta:

             - Em sua opinião, há algo em comum entre este símbolo e o título do texto?

 

Proposta de atividade intertextual. O professor poderá passar o vídeo da música Epitáfio do grupo Titãs e trabalhar com a letra da música.

 

  

Epitáfio(Titãs)
Devia ter amado mais
Ter chorado mais
Ter visto o sol nascer
Devia ter arriscado mais
E até errado mais
Ter feito o que eu queria fazer...

Queria ter aceitado
As pessoas como elas são
Cada um sabe a alegria
E a dor que traz no coração...

O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar...

Devia ter complicado menos
Trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr
Devia ter me importado menos
Com problemas pequenos
Ter morrido de amor...

Queria ter aceitado
A vida como ela é
A cada um cabe alegrias
E a tristeza que vier...

O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar...(2x)

Devia ter complicado menos
Trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr...


O professor poderá fazer questões como:

           _ .Que semelhanças e diferenças há entre o vídeo que você assistiu com o texto Pausa?

”Devia ter complicado menos
Trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr...”.

Esses são os últimos versos da letra da música Epitáfio de Titãs. Como você interpreta esses versos?
Avaliação (Após a leitura)

            Será solicitado aos alunos que façam uma produção escrita, na qual cada um disserte claramente que “forma de pausa” daria à sua vida, diante de um mundo tão exigente e conturbado como o é o da atualidade.

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